A morte dos nerds
Pareceu-me um tiro que acertou o vaso, quando mirava-se o abajur, o livro “The Age of American Unreason", da autora norte-americana Susan Jacoby. Ela defende um atual desinteresse juvenil pelo conhecimento, uma apatia de uma geração em relação ao intelectualismo. Para Jacoby, os nerds ainda são hostilizados por representarem uma reserva cultural acima do cidadão médio.
O que a intelectual desconsidera é a forma com que o conhecimento circula ou é organizado, que mudou muito da década de 1980 para cá. Quando pensamos num conhecimento estritamente acadêmico, cristalizado nos livros, a tese de Jacoby talvez faça um pouco mais de sentido. Mas um outro tipo de conhecimento, menos robusto, mas tão estimulador e relevante, nunca circulou tão livremente entre jovens, crianças e adultos e nunca foi tão difundido e aproveitado quanto agora, na sociedade em rede. Misturado com muita bobagem, admito. (Eis aqui um papel fundamental para a escola: ajudar a separar as essencialidades).
Isso não impede que, em outra embalagem, com outra velocidade, e com a possibilidade infinita de criação e interação, o conhecimento seja, sim, muito mais valorizado que há 10 anos. Por conta da Internet, é mais popular quem tem a informação primeiro, ou mais informação, sobre determinada música, um fato político que acaba de acontecer ou até mesmo sobre as novidades do último game lançado. Principalmente num grupo de amigos, o jovem que sabe mais é geralmente o mais admirado.
Quem passou a infância nos anos 80 sabe o que os nerds significavam e como viviam. Eram pouquíssimos, viviam em grupinhos, eram virgens (havia uma série de filmes americanos que narrava a aventura da perda da virgindade de um nerd) e discriminados. Nerd era um termo pejorativo, para definir uma minoria.
Estive recentemente presente em inúmeras feiras de ciência estudantis, nos Estados Unidos (como a ISEF, que reúne mais de mil experimentos de todo o mundo) e na América Latina e fiquei impressionado como os jovens cientistas namoram, gostam de música, são integrados e valorizados por seus colegas que por ventura possam ter outras paixões. Não é preciso ir tão longe. O Campus Party é um woodstock do conhecimento: o evento reuniu quatro mil jovens aficionados em tecnologia e cultura no Parque do Ibirapuera, em São Paulo (SP). Passaram dias entre competição de robôs, de games, música, paquera e troca de conhecimento.
O fato é que quem quiser olhar para a juventude atual com as mesmas lentes que olhava a juventude de outras épocas, vai a qualquer momento acabar soltando a velha máxima rabugenta: “no meu tempo que era bom!” – e cometer um tremendo erro.
Os nerds foram uma minoria. Agora, quem não tem assunto para uma conversa, fica para trás. Enfim, os nerds estão mortos. Vivam os nerds!
Por Alexandre Le Voci Sayad
Obrigado Alexandre pela atenção, o artigo original se encontra em http://aprendiz.uol.com.br/content/clephocesu.mmp
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